2007-12-23

Diário de um hipocondríaco # 5

Este é o ultimo artigo sobre este assunto. Avancei uns meses no diário, para transcrever uma situação vivida pelo Fernando, que achei pouco vulgar. Só modifiquei um pouco a descrição, para não a tornar muito longa.
02-10-75 --- Pela manhã, quando me preparava para ir trabalhar, senti que o coração estava muito acelerado. Verifiquei no pulso, contei 150 pulsações por minuto. Entrei em pânico e fui à urgência de um hospital psiquiátrico. Quando lá cheguei, fui atendido por um administrativo, a quem tive que dar o meu nome, idade, morada, nome do pai, da mãe, número da assistência social,doenças anteriores, etc., para preenchimento de uma ficha. En seguida mandou-me esperar, pois o médico de serviço, tinha se ausentado por uns momentos. Esperei 20 minutos, eu estava bastante aflito e fui ter com o administrativo e disse: Não me diga que o Sr. Dr. ainda não chegou? Ele respondeu que realmente o médico estava atrasado.
Eu já estava descontrolado. Isto é um serviço de urgência, o médico tem que estar aqui, disse eu já com a voz alterada. Aguardei mais 15 minutos e vejo entrar um senhor para um gabinete. O administrativo foi logo ter com ele, e ficaram a conversar uns dez minutos. Eu julgava que morria ali mesmo. Fui à porta do gabinete, que ficara entreaberta e perguntei se não me podia atender, pois estava me sentindo mal. O doutor, responde: Feche essa porta, o sr. não está nada doente!
A verdade é que 5 minutos depois, mandou-me entrar. Sentei-me, e o dr. com um ar aborrecido, pergunta: Então o que é que o sr. tem? Eu então digo: Ah! O sr dr, não sabe? Eu julguei que sabia, pois quando apareci naquela porta, o sr fez logo o diagnóstico!
O médico insistiu na pergunta, e contei-lhe o que estava a sentir. Ele verificou as pulsações, olhou para a ficha e daí em diante desenrolou-se uma amena conversa, durante a qual ele ficou a saber a minha vida, de há dois anos para cá, e eu fiquei a saber que ele estava seguindo uma determinada especialidade.
Uma hora passou e ele "viu" outra vez o meu pulso e disse: Há uma hora o sr. estava com 155 pulsações por minuto, agora está com 90. Como vê eu tinha razão, o sr. não tem nada. E ainda bem! Agora vá para casa, deite-se, e descanse mais uma hora. De tarde pode ir trabalhar.
Estou admirado como uma simples conversa, fez o coração bater mais calmamente. Os incómodos que estou sempre a sentir, deve ser tudo do meu sistema nervoso, que está avariado.
Passei o resto do dia bem.
E era mesmo, pois o Fernando, segundo me disse no dia em que estivemos a falar, actualmente está de boa saúde.
José

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